RELATO DE MINHA VIAGEM A UM MUNDO ESPIRITUAL DESCONHECIDO
Eram oito
horas da noite quando cheguei a minha residência, ninguém me esperava o que já
fazia parte de minha rotina. As pessoas com quem relacionei me maltrataram além
do que pude suportar, desisti de ser podado pelo egoísmo de terceiros e pela
falta de um amor palpável. Foi desta
forma que criei minha própria cela, desta vez moldada pelo silêncio e pela
solidão; pelo menos se acabaram as tensões diárias de esperar que a próxima
acusação saltasse em minha frente para me roubar o pouco da paz que teimava em
cultivar.
Um grande temporal
caía naquela noite, parecia que o mundo estava desabando. Totalmente encharcado
encostei o guarda-chuva e adentrei ao meu apartamento. A luz me abandonara naquela
noite, me fazendo queimar pavios em parafinas para me fazer enxerga os caminhos
e as barreiras que me cercavam. Apesar das dificuldades consegui cumprir as devidas
etapas e me encontrar deitado ao som de trovões e flashes disparados pela
natureza, estava me preparado para o ritual do sono. Acabei dormindo
serenamente, tranquilo em não sentir falta do tradicional beijo de boa noite.
Logo comecei
a sonhar com uma grande fazenda onde reinava o verde e o perfume de flores que se
espalhava nos campos; e tem gente que teima em dizer que em sonhos não existem
cheiros, pelo menos comigo a afirmação não confere. Não encontrei animais
presos, todos livres e sob uma luz que deixava uma nitidez incomparável naquilo
que enxergava. Senti um bem estar impressionante e por horas caminhei sem
sentir cansado. Cada canto da fazenda trazia uma bela surpresa para mim. Só não
avistava ninguém que fosse. Subi em um pequeno monte e vi a grandeza do terreno
que se perdia de vista, muitas árvores, riachos e um céu de um azul inimaginavelmente
límpido. Tudo diferente da realidade chuvosa daquela noite.
Em minha
busca visual avistei uma casa que me chamou atenção e me vez ir a sua direção
numa força energética que me atraía e me deixava arrepiado. Caminhei até sua
porta que estava aberta, assim como suas várias janelas e demais entradas. Bati
palmas, sendo recebido por um alegre cachorro que parecia ser familiar que
balançava o rabo como me convidando para entrar, tive impressão que eu era seu
conhecido. Esperei um pouco e acabei adentrando com o aval e insistência do cãozinho.
Caminhei sentindo uma paz que só me fazia bem e que me fazia sentir como no próprio
lar, minha mente começou a me martelar para me fazer lembrar-se de onde eu
conhecia aquele local; não consegui lembrar por mais que esforçasse. Andei pela casa sendo seguido pelo cachorro
que de tempos me lambia de felicidade, isso não me incomodava, só me
contagiava. Entrei em um corredor que possuía vários quartos com as portas
abertas. Uma ventilação incrível me convidava a ficar. Nem de longe a solidão
me incomodava.
Descobri que
havia uma porta fechada, o cachorro parou olhando para maçaneta e para mim com
um latido. Entendi que queria que abrisse e entrasse. Foi o que fiz. Virei à maçaneta e entrei no quarto que
estava escuro com suas janelas fechadas. Não enxergava nada; interessante que
eu sabia exatamente onde estava o lampião sobre uma escrivaninha. Risquei o
fósforo e acendi o lampião que iluminou todo ambiente. Fui olhando para o
quarto e tomei um grande susto. Vi um rapaz sentado na cama ao lado de alguém
deitado e coberto nos lençóis que dormia. O rapaz era branco de cabelos curtos e olhos castanhos
claros; pouco forte e aparentava ter uns 25 anos. Ele ficou me fitando e
começou a chorar, aquilo me contagiou, pois deu vontade imensa de chorar também
e muitos calafrios saiam do meu copo. Parecia que o choro me fazia bem e a
emoção foi intensa. Tentei caminhar em sua direção, mas minhas pernas não me
obedeciam. Fiz um grande esforço relutando pelo obstáculo imaginário, quando aumentava a
vontade imensa de falar com aquela pessoa. Continuava a chorar, como não
pudesse fazer nada para me ajudar. Mas ambos queriam estar mais próximo. Decidi
que iria de qualquer forma e para isso solicitei uma energia divina possível. Fiz
um esforço tão grande que acabei caindo no chão. Ali fiquei paralisado sem
conseguir mexer nada em meu corpo por mais que se esforçasse. Logo notei que
alguém estava me ajudando a levantar-se. Vi que estava sendo carregado até a
cama onde fiquei deitado. Olhei para cima e vi o rapaz da visão de braços
estendidos sobre mim, ele estava sereno. Vi perfeitamente luzes azuis saindo de
suas mãos em minha direção. Sem ter controle de nada fui adormecendo, mas um
grande estrondo me assustou terrivelmente, vi que o lampião se apagara, assim
como a luz nas mãos do rapaz; agora era só escuridão. Continuei estático na
mesma posição até que se acendeu uma luz, foi quando observei que a energia elétrica
voltara e que eu estava em meu quarto. Mais um estrondo, foi quando conclui
que se tratava de mais um trovão. Estava acordado e a chuva estava acabando.
Olhei para o relógio e vi que só havia dormido quinze minutos.
Posso dizer
que depois desta viagem astral a minha vida não passou por grandes mudanças, entretanto
me veio a certeza de que existe em algum lugar algo muito importante para além,
algo que nos esperam e que um dia trará a razão verdadeira de nossa existência.
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